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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

400 ANOS

400 ANOS







                                        400 ANOS - CAPITULO I


"400 Anos"

Perguntaram-me, que interesse alguém teria de ler um livro com história de vida de um desconhecido (?). Contudo, eu pergunto qual a diferença entre ambos? Tenho certeza apenas, que este livro ajudará todo àquele que passou, passará ou está passando por um infortúnio pelo qual passei. Só quem vive ou viveu, terá noção e saberá do que falo. Por exemplo - contar passagens de mim com minha família, que são engraçadas, diga-se antecipadamente – É como se eu me colocasse no lugar de todo aquele que sempre teve vontade de escrever em algum lugar, um pouco de sua trajetória e de alguma maneira, isso não foi possível. Acredito que ao ler todos os relatos, traga à tona lembranças de momentos agradáveis da infância; Isso de certa forma dará forças para prosseguir na luta pela recuperação. Porque, não temos apenas momentos tristes em nossas vidas.

Se pararmos pra pensar, vamos perceber que a felicidade sempre esteve presente no nosso cotidiano muito mais vezes que a amargura. Sei da importância de se ter um verdadeiro amigo ao nosso lado, e um bom livro pode ser este amigo. Além de encorajamento, este livro tem como objetivo mostrar para o amigo que ele é capaz de suportar as adversidades com muito menos sofrimentos...

 

 

_ Você sabe a diferença entre ENFARTE E INFARTO? Pois bem, enfarte é "ação de enfartar: obstrução do sangue nas veias coronárias". Infarto é "morte do tecido por carência de oxigênio, causado pela obstrução da veia". Acredite, sou obrigado a agradecer a Deus, por ter tido apenas enfarte, ou seja, apenas o aviso, que meu coração estava precisando de uma irrigação melhor. À medida que a veia era obstruída, ela ia diminuindo o fluxo de sangue para a máquina, até causar-me um infarto. Infeliz aquele, que não tem tempo de agradecer a Deus, pelo aviso do coração. Obrigado, pai de Cristo! Sim este livro não é nenhum livro de autoajuda, nem tampouco de conselhos, mas, quero acreditar que tudo que nele está escrito, talvez seja um pouco do que muitos também quisessem escrever. Quem sabe, até por temer a morte. Não sabemos de maneira nenhuma o que pode nos acontecer, antes ou após a cirurgia. O pior, não sabemos nem o que estamos sentindo, se é um início de enfarte, infarto ou algum mal-estar. Espero sinceramente que ao ler este livro, dê-se conta que nunca mais você será o mesmo, e que em primeiro lugar você está contando história como eu. E agradeça ao Deus-Todo-Poderoso por ter tido apenas o aviso do coração. Até mesmo àqueles que sofreram o infarto e milagrosamente estão lendo este livro, não se esqueça de agradecer todos os dias ao nosso pai celestial, junto comigo, estamos vivos. Você está com medo? Continue tendo, o medo é bom sinal de que você lutará e não perderá a esperança de ficar bom. Você está com coragem? Também é um bom sinal, pois você precisará muito, não para o momento da cirurgia, e sim, para quando tiver que encarar o próprio corpo cicatrizado com uma costura de trinta centímetros; Ou você não é vaidoso? Bem, se não for, a dor sentimental é menor. Nós somos divididos em quatro sujeitos: O que está passando pelo momento difícil de sentir o aviso do enfarte, e está fazendo tratamento para uma breve cirurgia (1). O que está encaminhado para o leito cirúrgico e que a qualquer minuto estará sendo submetido à cirurgia (2). O que já passou pelo procedimento e se encontra na enfermaria, para uma recuperação de cinco dias (3) e por fim, o que já se encontra em casa, a recuperar-se ao lado da família (4). Não importa em qual estágio você esteja, tenha certeza, que a possibilidade de um falecimento não é descartada, contudo, a chance de sobreviver é muito maior. O problema é a danada de a mínima possibilidade existir. Pois qual a diferença se tivermos 99 por cento de chance de viver, e morrermos exatamente neste 1 por cento? O importante é que você está lendo esse livro e até quem sabe escrevendo, algo muito parecido com o que escrevi. Minha cabeça está a mil. Na sua cabeça, não será diferente, está a mil e quem sabe até a mais de mil. Não importa, você acredita em Deus? Leia o livro "400 ANOS" e vamos viver juntos e sorrir depois, mesmo que lamentemos o fato de nossos corpos estarem mutilados... Contudo, salvos! Aqui, verás que não é só você que está pensando no que está pensando. Muitos como nós estamos sentindo os mesmos sentimentos; Só sabe do que estou falando, quem faz parte de uns dos quatros sujeitos que mencionei à cima. Afinal, o desconhecido que vamos encontrar e aprender a viver com ele, não é bem o que estamos desejando ou querendo. Mas infelizmente, estamos dentro da infortunuidade, e nada melhor do que encarar esta terrível passagem em nossa vida. Passagem sim, porque logo em breve – espero – estejamos comemorando toda essa tribulação, com muito vinho seco. Este livro, vai não deixar morrer a esperanças de vivermos os 400 anos que nos restam. Nestes escritos é muito possível que alguns dos tópicos tenham passagens de vida que se assemelhe com a vida de alguns de vocês, falo, por exemplo, de um sonho que são de todos, quem não sonha em viver 400 anos, mesmo que seja um sonho utópico? Cito a angústia de se viver sem saber o que nos vai acontecer no amanhã, se vamos ter um infarto a qualquer momento. Falo de uma vida real regada as grandes dores que nos perseguem; Refiro-me das coincidências dos números e das superstições desse tema, como também comento sobre como gostaríamos que nossos filhos fossem educados, se acaso venhamos a faltar; Relembro passagem que tive com familiares quando ainda criança, minhas travessuras, algo que muitos gostariam de narrar sobre suas vidas também. Em fim, todos os momentos que antecederam e até os dias que precederam os grandes sustos que levei... São os mesmo sustos que vocês levaram. Quem nunca pensou em escrever alguma poesia? Então escrevi alguma coisa nesse sentido; Talvez não seja das melhores, mas as nossas poesias nunca são as melhores porque infelizmente não somos poetas... Tudo bem!


Este livro não deixa de ser uma viagem em nosso mundo interior e em busca da vida, da alegria, da solução, em busca do amor, principalmente do amor de quem queremos que nos ame; Uma viagem em busca da verdadeira família, aquela que talvez pensássemos que tínhamos perdido. Leia... E desejo que quando estiveres lendo, suas melhoras esteja ocorrendo de forma acelerada... Boa Leitura, e muita... Muita... Muita saúde!



 

 

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Quatrocentos anos... Muita saúde, muitas felicidades, muita vida; Um sol para cada um. sempre divertimentos de sobra, saúde pra dar e vender. Churrascada, festa, trabalho e diversão; finais de semanas felizes, datas comemorativas; viver, ver, e viver muito. Quatrocentos anos...

Uma vontade enorme de morrer só aos quatrocentos anos. Lógico, só uma brincadeira; mas, que no fundo de cada ser; esse desejo mesmo sendo brincadeira, não deixa de ser sincero; um sonho pra todo seres humanos, mostrando desta maneira, o desejos de se ter uma vida eterna. São com essas frases "quatrocentos anos" que eu costumava brincar. "Só daqui a quatrocentos anos vou morrer, tá duvidando? É que você não vai chegar a essa idade, se não, eu ia te mostrar"; aí todo mundo ria e brincavam com minha brincadeira.

As pessoas mais achegadas (amigos e colegas) brincavam comigo sempre comentando: "Aí vem o homem dos quatrocentos anos!".

Tudo que fiz na vida tenho absoluta certeza que faria tudo de novo; mesmos os erros, como os acertos. Porque aprendi que foram os erros que me deram a condição de felicidade que hoje me encontro.

Aos poucos as festanças foram ficando para trás, a idade foi chegando e hoje aos 43 anos, a vontade de chegar aos quatrocentos não mudou. Essa vontade é infinita, a vontade de viver as festanças, é renovada a cada dia, apesar de saber que gradativamente ela diminui, mas, nunca chega à zero.

A ironia do destino prega peça em qualquer um e eu fui a bola da vez. 400 anos era minha conta, era minha meta; com um zero a menos... o destino resolve me derrubar. Aos quarenta, um susto toma conta do meu coração (literalmente).

Brincadeiras, quantas brincadeiras, fazemos com as palavras. Brincamos com frases do tipo: "cuidado com o coração" "de repente dá um pire-paque e lá vamos nós pro beleléu." O corpo cheio de saúde está, mas falamos isso, de exemplos dos que conhecemos; sempre de alguém distante, ou, às vezes de parentes que tiveram mal súbito. Infelizmente, uns morrem e, felizmente outros contam histórias. Na verdade, passa longe da gente pensar que esse pire-paque, seja no nosso próprio peito.

As dores no meu peito eram sinais que a máquina ia parar. A pergunta era: quais os motivos das dores? Dificuldades financeiras, nunca foi uma preocupação, isto era uma constante; eu já estava acostumado. A derrota ou vitória do time de coração, não emociona a ponto de causar dano à máquina bombeadora; quem sabe, talvez, um acerto na loteria federal emocionasse a ponto de mexer na estrutura do tum-tum-tum.(1)

No dia 24 de janeiro de 2012 (terça-feira), fui surpreendido às 22h00min, com fortes dores no peito, no meio do peito, bem na boca do estômago Uma dor, como se eu estivesse empanturrado e, a comida me fazendo mal, aquela dor da má-digestão Uma agonia que, achava eu, no momento do vômito, a dor passaria; ela acompanhada de um forte e intenso suor; a palidez tomou conta do rosto e do restante do corpo. "É só vomitar e jogar a comida fora, e logo essa dor na boca do estômago vai embora," Pensava eu, no sofrimento.

As horas passando e a dor incomodando, até que consegui vomitar, mas a comida não veio junta, apenas água. A meia noite a dor diminuiu e com muito cansaço consegui dormir um pouco. Às quatro horas da manhã a dor voltou a importunar, dessa vez com menos intensidade, porém não dormi mais. Acordado até às seis horas quando resolvi passar no médico; Às sete horas e quarenta minutos, dei entrada na UBS (Unidade Básica de Saúde). Ao contar o ocorrido a médica me pediu uns exames (eletrocardiograma, e de sangue) Pra que? Pensava eu! Se o problema era estomacal. "Seu eletro deu normal Sr. Osvaldo, vou lhe encaminhar para fazer uns exames mais detalhado" Disse ela. Mesmo sendo muito próxima a UBS do hospital, a transferência foi feita de ambulância. - "logo estarei em casa, alguns remédios, a dor vai embora e descanso o resto do feriado". - Pensava eu, já que era data do aniversário da cidade de São Paulo (25-01-2012) - com a família. Na UBS, já haviam me ministrados três injeções e um litro de soro. As horas passando, era quase meio dia, quando passei por outros médicos que estavam de posse dos resultados dos novos exames, quando me deu a notícia que o mal-estar era um enfarto do miocárdio. A partir de então fiquei internado por dois dias na emergência. Haja injeção e comprimidos a todo o momento e tubo de oxigênio nas narinas. A internação já estava feita, e aos cuidados médicos eu era um enfartado à espera de novos exames, para ver o tamanho do estrago que havia sofrido o coração, como também, a causa do enfarto.

A dor não deixava de me incomodar, o relógio marcava 19h00mi, já estava ha quase doze horas no hospital, o cansaço, a dor junto com as medicações teimava em machucar o peito. Quando, não sei quantos minutos depois, ela se foi de maneira lenta... Mas não totalmente. Poderia dizer que eu estava bom, em comparação ha horas atrás. Antes da notícia da internação o pensamento era um só: "à volta pra casa". Agora resta avisar a família o que houve e, que eu ficaria alguns dias preso no hospital. A esperança era uma dor que eu sentia na clavícula, devido ao excesso de força bruta no trabalho. Em meu pensamento tudo seria possível, menos que seria a dor de um infarto; a comida que não me fez bem, a dor do trabalho forçado, gastrite, etc... Logo, logo estaria (3) em casa. Mesmo com a afirmação dos médicos que se tratava de um enfarto, dentro de mim, sabia que eles estavam enganados – mero engano. Em seguida foi marcado para que fosse feito um cateterismo (cate)... Uma longa espera. A ENTRADA NO HOSPITAL no dia 25 de janeiro era o começo de uma espera angustiante, até o dia 13 de Fevereiro, mas, com um pouco de sorte, esta data foi antecipada para três de Fevereiro, (data do cate); mesmo assim, eram bastantes dias de espera. Enquanto a data não chegava, a internação era complementada com bastante dose de remédios e injeções. O alívio amenizante desses dias era a visita da família, cuja esposa, fazia questão de ficarem horas comigo. Aos poucos ia inconformado me acostumando, em ter que permanecer no hospital. Mas, o que era esse tal de cateterismo, Cate? Era um procedimento, para ver como estava o coração e suas veias. É um micro cirurgia, com anestesia local. O resultado? Só dia 3 de fevereiro, ficaria sabendo. Demorou... Mas, chegou. A remoção foi feita de ambulância até o hospital São Paulo – centro - Às 7h00mi em ponto, estava eu preparado para fazer o tal CATE... Ocorreu tudo bem. Fui deslocado para outra sala, onde seria feito o procedimento. Começaram com um furo na virilha e, não sei como, dava pra ver as artérias e, o coração batendo; Tudo através de um monitor pequeno. Lembro-me da cara de pouco amigo do médico, ao analisar as imagens. Senti que apesar de não entender nada do que via, pela cara do médico, a notícia não era boa. Neste momento, a esperança que eu tinha, de que não fosse algo grave, já tinha morrido. Percebi que meu estado era mais grave do que apenas uma dor causada por comida estragada ou, por esforço físico. Ao sair da sala de cirurgia, o médico deu a notícia, que no íntimo, eu já esperava: "Sr. Osvaldo, você tem duas artérias obstruídas, e pelo estado em que se encontram o melhor a fazer é OPERÁ-LAS." "Existe outro procedimento, mas no seu caso o melhor a fazer é o ato cirúrgico... Não se preocupe, porque hoje em dia, tudo está mais fácil e não haverá complicação, não há o que temer." - Dizia o doutor num tom tranquilizador. "Você terá uma vida normal após a cirurgia, não se preocupe." Com essas palavras, o médico se despediu e foi dar continuidade à sua rotina. Outro paciente, com o mesmo problema que eu me encontrava, estava à espera do mesmo. E pela cara do enfermo, a notícia que ele recebia era também desanimadora.

Não demorou muito, e eu já estava de volta, sendo removido de ambulância ao HOSPITAL SAPOPEMBA; Agora, com a notícia que uma PONTE DE SAFENA, seria instalada dentro do meu peito.

O silêncio tomou conta de mim, palavras fugiram; Só os pensamentos fugiam dentro do meu eu. A tristeza apoderou-se de todo meu corpo. Era nítido o meu semblante, (4) o abatimento, uma união de tristeza e medo. A certeza agora era outra: "A morte bate à minha porta, a ficha caiu!!!."A fortaleza de um homem, que nunca teve uma dor de cabeça e raramente destilava uma lágrima, que quase nunca sentia câimbra... Dor de dente... Dor muscular; O rosto sempre sereno, e às vezes seco... Quase sempre feliz e sorridente, porém, essa fortaleza abriu espaço para depressão. Como se já estivesse preparado, sabia que tinha uma luta contra esse sintoma também. Falava pra mim mesmo da consciência do problema. Se eu sabia, por que então, ficar triste e deixar a depressão me dominar?

Dia 10 de fevereiro, foi o dia em que a avalanche de tudo de ruim caiu sobre mim. Foi como se todas as dores que nunca senti e todas as lágrimas que rolaram, resolvessem virem todas de uma vez; Aos poucos os olhos iam lagrimando, o soluço se apresentando e o corpo se desmilinguido. Se o coração não parou no enfarto, deveria ter parado neste momento, porque a dor e a vontade de chorar foram tamanhas, que não consegui segurar; Como um carro descendo de ladeira abaixo sem freio, as lágrimas rolaram pelo rosto – chorei!!! ... Como chorei!!! –

Creio que o pior do homem, é saber da impotência do seu próprio ser. Cada vez que olhava nos olhos e no rosto da minha amada, aumentava minha vontade de chorar, quão triste ela também ficou ao receber a notícia, que eu seria submetido a uma cirurgia de coração. E agora o que vou fazer pra cuidar dela e dos meus filhos? Meu trabalho... Como vou fazer? Eu deitado ali, tomando injeções e mais injeções, enquanto segurava as mãos de minha esposa, tentava expulsar de mim a dor que teimava em fincar-se no meu ser. A impotência e a tristeza eram muito maiores do que eu... Venciam-me de minuto a minuto. Ali o único sentimento que eu conseguia discernir é que eu, já não era nada. Foi neste momento, descobri que "Quando temos saúde, não temos problemas nenhum, é dentro de um hospital, é que descobrimos nossos problemas verdadeiros".

O cateterismo, já havia sido feito e a notícia anunciada; O que me alegrava era a vontade de receber alta do hospital. Porque pobre como sou, a cirurgia não ia ser feita de imediato. O próprio hospital se encarregará de marcar através do SUS, a provável data. Quando? Só Deus sabe!

Era preciso um encaminhamento para outro hospital, e aguardar vaga para o procedimento cirúrgico. Sem motivo algum, aparente, me apareceu uma chata dor de cabeça. Dor essa que teimava em atormentar o lado esquerdo do crânio; Vinha e ia. Sempre que me perguntavam como eu estava, respondia que estava bem, ou que a dor estava passando; O que também não deixava de ser verdade. Mas, ela estava ali, suave (5) ou forte, rápida ou lenta. Perguntava-me, porque ela tanto me incomodava. Quando me era oferecido remédio para dor de cabeça, eu dizia está melhor.

Após o cateterismo, a ansiedade agora era a consulta com o cardiologista, o homem que ia dar a palavra final, da necessidade de uma cirurgia ou não e, se necessário fazer o que tinha que ser feito. A consulta ficou marcada para o dia 9 de Fevereiro, às 11h30mim. O problema era certo; A consulta com o cardiologista era apenas para confirmar... Entre outras coisas, a marcação da data de internação para cirurgia.

Então, lá se foi eu, com dores no peito e falta de ar, ao HOSPITAL BENEFICÊNCIA PORTUGUESA, SP- CENTRO- que segundo alguns, se trata de um dos melhores do país, em se tratando de cirurgia cardíaca. Minha ida, foi acompanhada de esperança nenhuma, era certa a cirurgia. Cravado no meu rosto a tristeza e desilusão, entraríamos juntos no consultório médico. Quando foi anunciada minha vez, recebi o chamado, como se tivesse indo para ser abatido, o abate da alma. Um senhor de seus setenta anos, olhava um vídeo com as imagens da veia e do coração. A me ver, ele (médico), foi direto: chamou-me para mostrar onde estava o problema, pois o vídeo que ele assistia era o do meu cateterismo. "Esta é sua máquina, e estes são os canos delas que estão entupidos" – Disse ele, apontando para o monitor. "Pois é, Sr. Osvaldo Cavalcante, são estes dois canos que você tem entupido" – continuou, se referindo às veias coronárias. Em outras palavras ele estava dizendo, que aquelas veias obstruídas, eram meu problema. A solução? Ele arrematou: "Só cortando, se você quiser continuar vivendo". Mostrou-me também, quanto o coração batia de maneira lenta, por motivo da falta do sangue que não chegava. Vamos fazer aí duas pontes de safenas e, o senhor vai ficar novinho. Após a cirurgia, vais poderes jogar bola, correr, brincar, etc. Menos se esforçar. Lembre-se: esforço-físico é diferente de exercício-físico. Em fim, ele foi categórico em me animar, para que eu saísse daquele consultório cheio de esperança; apesar do risco, era mais arriscado não fazer a cirurgia. Passou-me receita de mais dois medicamentos, para toma-los diariamente e, outro para tomar, no caso de ser pego de surpresa, por alguma dor inesperada. (emergência). Para me deixar mais animado, citou-se como exemplo, segundo ele mesmo, carregava consigo dentro do peito, três pontes de safena. Cirurgia essa, que fez ainda, quando jovem e, só não jogava bola porque, a idade e o tempo, não lhe permitia. Nesta hora eu o via, mais com admiração do que como exemplo de esperança. Também, não podia negar que aquele exemplo vivo, não fosse um alento. Pra mim, este alento, era como um grão de areia na imensidão da orla marítima. Lembro-me dos dias que me encontrava internado, onde, não havia mais (6) apetite, cedendo lugar para o abatimento, este sim, se apossou de mim. Estaria eu, já com depressão? Visitantes de outros pacientes repararam quanto eu estava deprimido... Os enfermeiros notaram minha depressão. Todos me traziam palavras de apoio, para que a depressão não fosse mais uma doença a me habitar. Respondia-lhes que eu não estava deprimido e que não estava com sintomas de depressão e sim, apenas triste; - assim pensava – Era um risco pensar assim? Não sabia.

Sabia apenas que outras perguntas surgiriam. Como ter esperança e sentir-se feliz, sabendo que de uma para outra, posso está saindo da vida para morte? Que dos quatrocentos anos o resumo deu-se apenas para quarenta anos? Saber que de tanta saúde e vida, só me resta uma migalha alimentada por uma incerteza tênue da vida e da morte? Como sorrir sabendo que terei o peito aberto para conserto, sem saber se acordarei para ver os mecânicos que nele trabalharam?

A palavra de quem está de fora, proferida com a mais pura sinceridade é: "Força amigo, fé em Deus, que tudo vai dar certo". Feliz é aquele que dormiu na mesa de cirurgia e acordou. O trio: Força, Fé e Esperança, só passa a existir, quando estivermos vendo o semblante dos que estiverem ao seu redor após o despertar de uma anestesia.

De início, acreditava que era apenas uma obstrução, ledo engano! Agora, são duas. Tudo bem, que existe pessoas com mais de duas obstruções. Porém, isso não serve de alento para ninguém. Como ter esperança ou fé, quando se sabe que outra pessoa está mais grave que você? Se outro escapou, ou foi a óbito? Acredite, nada disso faz sentido, enquanto os médicos estão lhe cutucando, cortando, emendando e costurando.

É bem verdade que ainda não morri se não, não estaria escrevendo. Mas, o sentimento de está no corredor no da morte é, tão vivo, quanto os olhos dos que enxergam.

Outra certeza informada pelo cardiologista foi a data da cirurgia; tinha que ser o mais rápido possível: não menos que dois meses. Que certeza não?!. Eu não sabia se ficava alegre ou, se ficava triste. Na turbulência do liquidificador uma incerteza a mais ou a menos, não faria diferença; uma tristeza a mais ou uma alegria a menos a essa altura, também não faria a menor diferença. O que me alegrava neste momento era o fato da dor de cabeça ter-se ido. Pelo menos, no corredor da morte, eu tinha uma dor a menos.

Há uma coisa que desde o dia 9 ficou sem resposta: serão quase dois, ou mais meses para cirurgia. Será que não terei um piri-paque nesse ínterim? Dará tempo de ser socorrido? Bem, os remédios, estou tomando religiosamente nos horários marcados: (7)_(07h30min – monocordil; 09h30min – atenolol; 11h30min – enalapril; 13h00min – monocordil; 14h30min – AAS; 18h00min – clopidogrel; 20h00min – monocordil; 21h30min – atenolol; 23h30min – enalapril). Tento ser rigoroso nos horários, é verdade que às vezes falho, mas, no cotidiano em geral, sigo direitinho.

Hoje a dor no meio do peito continua firme definitivamente, apesar da bateria de doses. É a sensação de ferida aberta; E é como se algo tivesse arranhado esta ferida no seu núcleo. Sim, é uma dor até que suportável. Durmo e acordo com ela. Que é chato, não tenha dúvida! Se me esforço andando, ou se sou contrariado, a dor fica mais constante; quando estou cansado, sinto que a respiração é afetada. Conversando sobre os remédios e/ou lendo as bulas, descobri que tais, serviam para: afinar o sangue, dilatarem os vasos, controlar a pressão e evitar a angina (dor no peito). Mesmo sabendo de tudo isso, não se dar a certeza, de que o coração aguentará até o dia da cirurgia. O que posso afirmar é que até hoje, dia 21 – 02 – 2012, às 16h45min, ainda não me ocorreu nada de mais grave... Graças a Deus!



 

*Nunca tome remédio sem orientação médica

Não se automedique. Tomar por conta própria pode levar à morte.

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