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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

400 ANOS - CAPÍTULO - ll

                                          
CAPÍTULO 2
 
 
 
 
 
                                            O CORREDOR DA MORTE



 

 

 

 

 

Fico me perguntando qual crime cometi, para pagar com a vida?! É claro que não fico me culpando, nem buscando resposta do "por que comigo?" Tenho ciência das palavras que eu tinha costume de citar às pessoas, a respeito da vida: ‘somos pontos luminosos no universo, que acendem e apagam num constante pisca-pisca. Apaga um aqui, outro acolá, outro ali. Até que chega a nossa vez. ’ "Aqueles pontos luminosos que apagam em lugares variados, são pessoas que morrem. Os pontos luminosos que acendem, são vidas novas que nascem dos ventres maternos".

Minha luminosidade por enquanto mostrou-se com falta de energia, motivado por falha na fiação elétrica, e por pouco, não fui mais um ponto a apagar-se no infinito universo: é assim que mim sinto, por esses dias que estou passando. Vivo à espera da sentença do juiz (junta médica) confirmando a data para o procedimento cirúrgico.

A trama está montada, o destino quis que desta vez o ator principal fosse eu (réu condenado), a família (os soldados), os estranhos (a plateia). Tirando o réu, o que os outros têm em comum é o olhar. Olham-me com um olhar, de quem poderão está olhando (8) para o ponto luminoso, pela última vez. Uns com olhar piedoso e outro, de despedida. Até as visitas, parecem serem feitas com os mesmos significados.

Como se eu estivesse por trás das grades e todos, vendo-me como um condenado, acredito que, uns desses estejam desejando o final, o mais rápido possível. Porque coração de estranho é assim, uns querem o bem outros, querem o mau. Nunca vamos conhecer quem é quem. Isso, também não importa! Para um cético, nada disso voga.

A realidade é essa: eu com pé neste mundo, e o outro pé, no outro mundo. O corredor da morte dá direto para sala letal. O carrasco está lá, encapuzado, à espera do que será abatido. Os dias passam lentamente, vou andando a passos de tartarugas à sala de execução. São dias tristes e anormais. São dias para reflexões e arrependimentos? Como vou pedir perdão, se não sei o crime que cometi, para receber uma pena tão alta? Até que eu pediria, se soubesse! Eu acredito na vida como ela é; acredito no dia a dia; acredito no resultado final. Nunca falei com alguém que se encontrou no CORREDOR DA MORTE. Sendo assim, não dá pra saber dos pensamentos deles; eu acho que ‘medo’ era o que eles menos tinham. Este é um sentimento, que falando por mim - já que me sinto em tal corredor – não existe no meu ser. É claro que, se eu despertar da cirurgia, darei continuidade à vida com o mesmo valor que sempre dei; O mesmo valor que dou hoje.

Quantos passos ainda me restam? Não sei! Só sei que a vontade de não ver ninguém, é a que mais tenho. Por mim, eu me isolava, e só aparecia, quando eu aparecesse*. Não sei se é normal, mas, como disse antes, saber que estamos impotente, que estamos próximo de ser um nada; saber da possibilidade de ser apenas uma lembrança é muito pior do que o infarto ou a própria morte. Deve acontecer dos prisioneiros penalizados à execução terem seus sonhos; Talvez, a única coisa que não sonham, seja com a própria liberdade, pois a culpa, acredito, não lhes deem esse privilégio.



*Três meses depois, completamente recuperado.

Chegaram a me falar que parecia que eu estava me entregando à morte e que o desânimo estava estampado no meu rosto. Fui aconselhado esquecer esse percalço e, a viver, como se nada estivesse acontecido; Só que, enquanto ele me aconselhava, a dor no peito e a falta de ar insistiam em me avisar que, eu não podia dar ouvido àquelas palavras. A vontade de me animar foi louvável, até agradeci e concordei com ele. A vida é muito bela para me derrubar antes do tempo. O inconformismo é que é muito maior que eu. Nunca vou me conformar com o que está me acontecendo. Estou preso sim, estou no CORREDOR sim. Porém, sou um dos raros casos de inocência; e quantos inocentes já não morreram? É verdade, que há casos raros de absolvição. Como esquecer que de uma hora pra outa saí da liberdade, para caminhar no CORREDOR DA MORTE? Talvez seja esta fisionomia que os outros, não estão conseguindo visualizar. Desde então, me mantenho pensativo, calado e muito desanimado. A alegria se foi e, isto é fato.

Sei que não terei outras reações, até o dia em que eu deitar para cirurgia, naquela mesa e tiver a permissão divina de se levantar. Por isso que afirmo, Deus é muitíssimo justo. Pois, Ele tanto permite a vida, quanto a morte... Isso para toro ser vivente. Então, que seja feita a vontade do todo poderoso.

A sensação de ser um prisioneiro, condenado, é motivada pela falta de data para fazer a cirurgia e, pelo fato de não saber como reagirá o coração até a data do procedimento. É como se o condenado, sem informação do seu processo – sabendo apenas da sentença – fosse acordado pelos guardas, e conduzido à forca ou a injeção letal, e também, à cadeira elétrica.

Sim, não penso em muitas coisas quando estou pensativo; às vezes acho até que não penso coisa alguma. São tantos remédios, que tenho a sensação de está drogue (dopado, tonto, aéreo). No inconformismo penso: "Sou o mais novo da família, meus outros irmãos, faz tempo, passaram dos 43 anos, nunca soube, que eles tivessem ou tenham problemas de coração. E olha que éramos dez irmãos. Até a irmã, que morreu de câncer de mama, tinha mais de quarenta. Fora isso, quase não penso...! Como todo mundo, eu também tenho sonhos, comigo não seria diferente. Primeiro, quero ver se acordo desse pesadelo de infortúnio, e assim eu venha ter sonhos bons. O homem não tem um sonho... Ele tem uma infinidade de sonhos. É claro que existem sonhos e sonho. Uns grandes, outros pequenos; Uns importantes, outros, menos importantes.

Sonhar que se está engaiolado, não é o desejo de ninguém. A diferença de um pássaro na gaiola e o ser humano atrás das grades, estar na chance de obtê-la, quando há esta possibilidade. O que faz um pássaro, quando é premiado? E o homem o que faz? Não vale de nada a liberdade, sem um sonho, como também, não vale nada um sonho sem liberdade. No corredor me sinto assim: perturbado, inconformado e vendo a vida como uma incógnita. Vejo-me com um sonho desfeito e uma liberdade ilusória... Onde tudo se apaga no fechar dos olhos. O medo deixa de existir a cada dia que passa. É no passar dos dias que se passa a dor; Como diz o dito popular, "O tempo é o remédio pra tudo". Aprendi nesses poucos dias de espera, que serei apagado no tempo, mas não serei apagado no coração dos que (10) realmente me amam. Na mente de todos, haverá lapso de amnésia. Contudo, do coração, jamais.

Independente do corredor do qual me encontro, o inconformismo, também, não importa muito. Que importância tem se fico chateado, inconformado, triste, feliz, conformado ou infeliz? Aconteceu e pronto!

Por dentro já morri mesmo! É natural sentir-se morto quando, se recebe uma notícia desta. Se assim não acontecesse, eu não seria humano. Todo dia é uma luta travada, pela passagem do tempo. Brigo com unhas e dentes, para que os dias passem voando, porém, suas 24 horas andam lentamente nos compassos dos segundos. Quanto mais rápido fosse feito a cirurgia, mais rápido o desfecho se dava. Aliviava assim a ansiedade de todos; Odeio o montante de remédios que me são ministrados, parecem até, tranquilizantes para leões dormirem. Minha sorte é que todas as grades têm o espaço de um ferro para outro. São nestas lacunas, que sinto a passagem para ir adiante O destino? Só o futuro mostrará.



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