Voltando à realidade, Silvania sabia que àquela hora, não adiantaria ir à firma que Teodoro trabalha. A que horas iremos chegar lá?- Perguntava-se. – Ainda bem que você voltou a si, não há muito que fazer. Não sabes que notícia ruim anda mais de pressa que reflexo de espelho? – Silnaire argumentava com certa razão, e se sentia aliviada por ver que a paz momentaneamente residia na mente de Silvânia. Sabia que sua irmã poderia está certa, e ficava a observar a intranquilidade dela, na caminhada naquele pequeno espaço da sala pra cozinha e da cozinha pra sala. Sabia que a paz estava presente, mas a tranquilidade de Silvânia, jamais. A tentação de ir ao encalço de Teodoro não saía de sua cabeça. Por fim, sentou-se e deu mais um trago no café, que a esta altura estava frio. Baixou a cabeça sobre os braços cruzados em cima da mesa, respirou fundo e com um tom melancólico disse: Aguardar é o que nos resta!
Naire mostrava certa tranquilidade, tentava ser racional. Puxou da cadeira e sentou-se ao lado da irmã, para saborear o mesmo café gelado. – Nossa, que horroroso! – Reclamou, mas engoliu a força. Silvânia, com a cabeça baixa e o ar desanimador, ergueu-se e como se estivesse dopada cambaleou em direção ao quarto. Silnaire, também se levantou e dirigiu-se a pia, e jogou o restante do café no ralo. – Basta de tanto café frio por hoje. Deu boa noite para Silvânia e aproveitou para lavar alguns pratos e xícaras que se amontoavam. Através da janela observava o dilúvio que caía do céu. Então, terminando de lavar a louça, foi fazer companhia a Silvânia. Olhando novamente o relógio, viu que a hora passara. – Vai dar meia noite, não é possível que ele não venha pra casa! – Pensava, enquanto afagava os cabelos da irmã. – O melhor mesmo a fazer nesse momento é dormir minha irmã... É dormir! Amanhã, agente vê o que faz se preciso... Vamos à polícia e registramos queixa.
A todo o momento Silnaire, tentava manter-se sóbria nos pensamentos. – Polícia, pra que polícia? Aquele cachorro deve é está com alguma vagabunda por aí, enquanto eu estou aqui, feito uma idiota cheia de preocupação. Minha intuição não falha Silnaire. – Silvânia parecia saber o que estava dizendo. – Quantas vezes, você já não falou isso? E em todas às vezes você se enganou! Respondeu Naire – Isso é o que você acha – Retrucou Silvânia, e continuou – Sabe de uma coisa? Vou seguir seu conselho minha irmã! Não adianta eu ficar me intoxicando com pensamentos, sei que hoje ou amanhã cedo ele retorna. – É isso aí Vânia, até que fim, uma palavra coerente. – Disse Naire enquanto arrumava o cobertor sobre o corpo de Silvânia e completou: "Boa noite". O tempo chuvoso era um convite a uma boa noite de sono, o tempo frio ajudava nessa missão. Naire se recolheu também; Se elas iam conseguir dormir, só o resto da noite saberá responder. E o sono em fim as levou para profundezas da escuridão.
Deus mandava água sem limite, nem hora para cessar. Nas ruas davam para andar de botes. As calhas dos casarões que ficam em frente do hotel sex-Tur. derramavam milhares de centenas de metros cúbicos de água, formando cachoeiras cima a baixo. Dentro do hotel, através das janelas, Teodoro e Karla apreciavam a imagem que embelezava a noite. O volume torrencial espalhava-se deslizando sobre os vidros das venezianas, que entreabertas, deixavam respingar gotículas que umidificava a bela cortina que ornava a parede. O vento mesmo suave balançava-a refrescando ainda mais o ambiente de uma alcova que simbolizava a união de um casal apaixonado. Com seus corpos quentes, a umidade no ambiente, servia para refrescar a pele que se encontrava nua. Abraçados depois da magia do amor, brincavam com seus pés roçando-os enquanto se olhavam ternamente, como se estivessem agradecendo aos céus por aqueles momentos e por terem encontrado um ao outro. Finalmente encontraram o amor. O frio, a chuva, o clima refrescante, o aroma dos corpos, a cortina a balançar a cada sopro do vento. Só faltava a lua pra completar o cenário perfeito. Um homem e uma mulher, agora um só corpo, um só desejo; Tudo será eterno. Um sonho, um sonho acordado. E no silêncio, aos poucos seus corpos tomavam outra posição, então deitado e suas peles coladas, olhava para o teto, onde apenas uma luminária deixava o mínimo de claridade.
Os minutos passavam, agora lentamente e de olhos fixos para o céu, deixavam-se vagar nos pensamentos. O mundo lá fora não existia! O mundo era ali, as quatros paredes... Ali era o verdadeiro paraíso. Ninguém no mundo se amava mais do que Karla e Téo. Naturalmente, devagarinho seus corpos aconchegantes se posicionavam para um merecido descanso no resto da noite. Em posição de côncavo e convexo, antes de se entregarem ao sono, Karla acordou para o mundo real. – Téo, como vai ser o amanhã? – Não entendi... Como vai ser amanhã? Ha, quando agente acordar vai ser maravilhoso – Respondeu Téo naturalmente. – Não, não estou falando sobre se vai ser maravilhoso ou não, isso eu sei que vai. – Karla girou para frente e continuou – O que vai acontecer com agente quando sairmos daqui? Pra ser sincera, eu continuaria a vida toda aqui com você... Mas não dar pra vivermos dessa maneira, é muito pouco para nós! – Eu sei meu amor, também não me agrada vivermos nos encontrando às escondidas. Precisamos ter apenas mais um pouco de paciência. Nada nesse mundo vai nos separar. Eu também não gosto dessa situação. – Téo, sabia o que estava falando, seu coração não desejava outra coisa, se não viver esse grande sentimento que lhe invadia sem pedir permissão. – E esta noite eu quero que você seja só minha e não vou dividir você com preocupações. Vamos aproveitar o restante da noite e descansar... Finalizou e ficou a ouvir o que Karla iria dizer. Não demorou – Eu confio em cada palavra que você está me dizendo, Téo... É que às vezes eu quero mais do que momentos contigo, eu te desejo por completo. Dizendo isso, Karla o enlaça novamente com um doce beijo, deixando-se levar pelo sono e o cansaço de uma grande noite. Ali, adormeceu abraçada a Teodoro, que por sua vez a acalentava ao som da chuva, que entoava a canção dos amantes e pelos afagos dos carinhosos dedos que alisavam os longos cabelos da amada recheando-os com gostosos cafunés. – Dorme amor... Dorme amor! – Dizia Téo, deixando-se dominar pelo pedido do corpo, então o sono o fez dormir, enquanto o dilúvio acabava com o mundo. Os amantes estavam presos pelas enchentes noturnas e pelo destino, e porque não dizer, pelo amor.
JULIA SILVIA LIMA uma moça independente, 22 anos de pura beleza. Mas um ano e terminava o colegial. Grandes planos para o futuro. Loira e ar de sedutora. Pernas torneadas, seu charme era de dar inveja a muitas garotas de sua idade. Seus lindos cabelos loiros eram ondulados, davam abaixo do ombro. Seu batom predileto tinha que ser da cor de chocolate, dizia ela, que era pra lhe dar melhor tonalidade, referindo-se a sua cor branca. – Poderia muito bem ter nascido morena, ou quem sabe, negra – Pensava Jú, enquanto sacudia as madeixas pra lá e pra cá, na esperança de secá-lo com mais rapidez. Não pensava em usar secador de cabelos, dizia que danificava as pontas. Preocupada com as horas, jogou a mochila pra onde o nariz apontava. Dentro da mochila estavam os cadernos com lições da facul. Era esse o termo que usava para faculdade. O nariz apontava para a cômoda, e foi ali, que ficou a mochila. Sua preocupação era com as horas. Não perdeu tempo e muito rápido tomou um banho e trocou-se. Vestiu uma roupa que lhe caía tão bem, segundo ela mesma: Uma blusa pequena, sem manga (regata) onde lhe deixa à mostra o umbigo e uma calça bem justa de coton, que se notava claramente a marca da peça de baixo. Caprichou no batom cor de chocolate e se dirigiu à sala para esperar o homem de sua vida. Foi em seguida ao aparelho de som, e pôs uma música pra tocar... Pra relaxar o coração e a alma, enquanto seu homem não chega... Seu homem, seu amado. Para não incomodar o vizinho, deixou o som baixinho e ficou a cantarolar uma música estrangeira, tal de Aldelym, cantora que está estourando nas paradas de sucesso. – Hoje, dia primeiro está fazendo cinco meses que estamos juntos – Pensava cantarolava ao mesmo tempo. Voltou ao quarto e se olhou no espelho para se certificar como está sua beleza. Virou-se para cama pra ver se o local onde deixara a caixa embalada com um lindo papel de presente estava bem visível. – Ele deve estar trazendo algo muito especial pra mim. Eu sinto eu sei! – Feliz, Julia Silvia, retornou à sala para perto do toca cd e se jogou no sofá. – Agora, é só aguardar! – Disse e aproveitou para olhar as horas e confirmou: 9h45, - Ainda está cedo, vou aproveitar para fazer algo. Mas o quê?! – Ansiosa Julia não sabia o que fazer. Seu "dengo" como ela o chamava, estava preste a chegar. Aproximava-se a hora do almoço, este momento seria avisado pelo estômago. Enquanto as horas não passavam a barriga pedia-lhe algum alimento; Foi à cozinha e comeu o outro pedaço do pão que sobrara do café da manhã. – Apenas um pedaço! – Não querendo aumentar a silhueta, limitava-se a comer apenas uma banda de pão. Contudo, não abria mão de uma boa manteiga, ou de uma margarina de boa qualidade. Sua mente inebriada ao som romântico, não parecia que acordara há pouco tempo. O telefone tocou. – Será ele? – Pensou, ao correr para tirar o telefone do gancho. - Tu-tu-tu-tu-tu... A ligação não deu sequência e Julia ficou sem sabe quem estava do outro lado da linha. A ansiedade voltara a tomar conta do coração... – "trim-trim-trim-trim"... Desesperada Julia corre ao telefone para que não tenha a surpresa da linha cair novamente. – Alô! Oi, alô! – Ninguém respondeu, o telefone ficou mudo, não dava nem sinal de ocupado. Isso deixou apreensiva. – Só podia ser ele! Por que então não respondeu? Será que era ele mesmo?... Não, não podia ser ele, ele não ia brincar comigo assim! – Julia esperou o telefone tocar novamente... Passaram-se minutos e nada o telefone chamar, não dava sinal de vida. – Deixa pra lá, vai ver não era nada de importante, ou foi engano – Pensou... Deixou os maus pensamentos de lado e se concentrou só em coisas boas: A chegada do seu querido e amado.
Trim...trim...trim... Parecia que o telefone chamava com mais intensidade. Desta vez Julia percorreu o caminho lentamente. – Engano ou não, vai ter que esperar... Está pensando o quê? – Respirou fundo e como tivesse certeza que era o Téo, amado, tirou o telefone do gancho: - Pronto alô! – Atendeu mostrando-se tranquila e torcendo que do outro lado da linha estivesse seu amado. Aproveitou para olhar novamente o relógio, e reparou que ele já estava atrasado. – Alô, oi Julia, sou eu querida! – Do outro lado da linha num tom aprazível e de desculpas, Téo fica espera de uma resposta. Resposta essa que é imediata: - Meu querido, eu pensei que você já estivesse aqui... Onde é que você está amor? – Perguntou num singelo tom de ironia. – Olha, não vai dar pra chegar aí antes das onze horas. Houve um contratempo... Espero que não fique chateada. – Ôh não Téo! Só quero que você me dê à certeza que virá! Não me importo se será depois das onze horas. Eu queria muito ter tomado o café da manhã contigo... Já que não deu, fazer o quê? Infelizmente não será dessa vez. O que houve? – Quis saber – Nada de interessante, quando eu chegar aí conversaremos melhor – Respondeu de maneira resumida. Ao dizer isto o telefone ficou mudo. Do lado de cá da linha Julia não teve tempo de lhe mandar um beijo ou dizer que estava com saudades. Tu-tu-tu-tu... Esse foi o último som que Julia ouviu. Olhando para o vazio e de boca aberta, colocou o telefone lentamente no gancho e pensou: - O safado desligou!
Téo gós, às pressas não olha um minuto sequer para trás, o hotel aos poucos deixa de aparecer no momento que Téo dobra à esquina. Silvânia sua esposa o espera de mais uma noite de trabalho. – Antes preciso passar na padaria e levar uns pães quentinhos – Enquanto andava em direção da padaria, Téo tentava reorganizar seus pensamentos, para dar uma boa desculpa quando chegasse à casa de Julia. Ele sabe que desligar o telefone da maneira que desligou, teria que dar uma boa explicação.
Conformada aparentemente, Silvânia, abriu os olhos e levantou a cabeça para olhar o relógio que ficava no alto da parede marcar 9h57. A irmã dormia feito anjo no quanto de hóspedes. Ao contrário do que se passava na mente de Téo em relação Júlia, ele não demonstrava uma gota sequer de preocupação. Para ele, não faria diferença a que horas chegava em casa, a discussão era inevitável. O amor da parte de Téo, não existia, há um bom tempo.
Ao abrir a porta não deu de cara com Silvânia, ela se encontrava no toalete. Enquanto fazia sua higiene matinal, notara através do espelho que o tempo passara. Pequenas rugas davam sinais de vida, nos cantos dos olhos. Foi quando lhe-bateu um profundo desânimo e uma vontade de chorar lhe invadiu o peito. Mas Silvânia não se deixou abalar, abriu a torneira e encheu ambas as mãos e lavou o rosto, misturando lágrimas e água. Amargura era a palavra exata para justificar tamanha dor. Muitas e muitas vezes trancou-se no quanto para aliviar esse sentimento que acreditava piamente ser causado pela falta de um filho que durante anos de casamento, não recebera essa bênção. Seria esse o motivo que levava Téo passar noites fora de casa? Silvânia não tinha certeza... Contudo a pulga já estava instalada atrás da orelha... Agora ainda mais. Está quase se tornando rotina as dormida fora de casa. Sabia e sentia que as horas-extras que Téo dizia fazer a cada vez que se ausentava, eram meras desculpas. Ele tinha outra mulher sim!
Téo gós, ficou por minutos – após entrar sem ser visto – fitando Silvânia enquanto ela se olhava no espelho. Sem notar a presença do marido, ela se assustou, por momento acreditou se tratar de um fantasma, mesmo sabendo que fantasma não existe. – Bom dia minha querida! – Essas palavras num tom irônico, soaram iguais badaladas de sinos de igrejas, estourando os tímpanos. – Não toque em meus cabelos, tirem suas sujas mãos de cima de mim! – Respondeu Silvânia, ao sentir que ele, insinuara passar as mãos nos cabelos dela. E continuou: - Não me venha com essa de querida, seu sínico. É muito fácil pra você dormir fora de casa, pôr um sorriso falso na cara! – Desvencilhando no aperto do banheiro, foi em direção a cozinha onde viu os pães sobre a mesa. Continuou: - É sempre assim... Passa antes na padaria, compra os pães e vem com uma conversa mole! Por que você não fala logo que estava com alguma piranha até essas horas? Qual o nome dessa desgraçada e onde ela mora? Vamos, fale logo... Ou você pensa que sou burra! – Os olhos de Silvânia estavam a ponto de sair pra fora, seu rosto tremia de vermelho. Téo limitou-se a responder, de forma serena: - Bem, eu só tenho a dizer que trabalhei duro até agora! A escolha entre acreditar ou não, no que estou dizendo, é sua. Olhe bem na minha cara, bem dentro dos meus olhos, você acha que estou mentindo? – A firmeza com que Téo proferia essas palavras, era tanta que deixava no mínimo, qualquer mulher na dúvida.
Se sentindo ofendido, Téo pegou um pão e tratou de passar margarina, quando pôs a mão para pegar a garrafa de café, sentiu um vulto. Era a garrafa que voara longe. Silvânia meteu a mão na garrafa que ela caiu após bater na parede. – Você vai tomar café no inferno, seu maldito! – Chorando e gritando piedosamente, não viu mais nada em sua frente. Ao sair correndo derrubou cadeiras que estavam no lugar errado na hora errada.
Imóvel, como se não estivesse acontecendo, Téo, continuou passando a margarina no pão e mordeu um pedaço a seco. Tal qual ator, fez uma cara de ofendido, colocou o restante do pão sobre a mesa, balbuciou algumas palavras indecifráveis e foi lentamente até o quanto onde se encontrava Silvânia, chorando e praguejando, falou: - Não me espere para o almoço, só volto à noite e torço muito para que você esteja mais calma! – Olhou para Silvânia por mais um minuto... Em silêncio... Virou-se e saiu sem dizer uma só palavra a mais. – Volte aqui! Téo... Volte aqui, é só isso que você tem a dizer? Dorme fora, chega no outro dia, passa a noite toda com uma vagabunda... Dá de ombro, como se não estivesse acontecendo nada, me deixa falando só? Então vá para o inferno maldito e fique por lá! - Sem dizer mais nenhuma palavra, Téo apenas ouviu o barulho da porta, estrondando à sua costa. A pancada foi tão forte que deu a impressão que parte dela tinha se partido.
Silnaire assistia tudo em silêncio, sofria a mesma dor da irmã. Mas não podia explodir tal qual Silvânia. Como poderia demonstrar seus sofrimentos justamente para irmã, se o homem que ela ama loucamente é o cunhado Téo. Silnaire vendo o desespero e o choro de sua irmã ajudou-lhe a levantar do pé da porta. – Tenha calma Vânia, eu acho que você está fazendo uma tempestade, e se o Téo estiver falando a verdade? Se ele estiver falando a verdade você está sofrendo a toa... Venha vamos tomar café, termine de lava o rosto e vamos para mesa! – Silnaire eu não entendo... Você ver meu sofrimento e a falta de amor que o Téo demonstra por mim, e te manténs tão fria! – A diferença é que você é a esposa dele e eu sou apenas cunhada... Mas acredite eu sofro muito com o seu sofrimento. Não importa o que aconteça, ele pode até ter outras mulheres por aí, mas terminará voltando pra nós... – Nós?! Você disse, nós? – Replicou Silvânia. – Sim nós, eu falo nós porque me sinto parte da família - Reiterou Naira, concertando seu ato falho. – Desculpe minha irmã, é que eu estou tomada, com tudo que vem me acontecendo... é claro que eu entendi o que você quis dizer. – Silvânia se desculpou, porque por segundo lhe bateu um leve ciúmes nas palavras de Naira. – Tudo bem... Não precisa se desculpar, vamos tomar esse café, que estou morrendo de fome.
Silvania após ter puxado os próprios cabelos, praguejado, e chorado rastejando-se ao pé da porta, tinha ciência de um amor que estava se indo. Nada lhe tirava mais da cabeça que era apenas uma questão de dias, e o marido não faria mais parte de sua vida. Silnaire por sua vez se sentia igual cobra presa dentro do cesto sem saber que rumo tomar no que se refere à tragédia da separação da irmã e lutar pelo amor de Téo, o cunhado. O silêncio, muitas vezes era o melhor caminho para o anonimato de seus sentimentos. – Não posso continuar alimentando essa ilusão... Além de ser o meu cunhado, também é um galinha. O que faço meu Deus? – Silnaire! – Falou num tom alto, assustando-a – Oi, minha irmã, não estás me ouvindo? Em que pensas tanto mulher? Deixe esse assunto pra lá!
- Ham! Não estou pensando em nada... Na verdade fico imaginado o que devo fazer para te ajudar nesses momentos tão difíceis. – Respondeu Silnaire, se recuperando do susto, já que estava realmente perdida em pensamentos.
- Juro, eu prometo que descubro quem é a infeliz que está destruindo meu casamento – Silvania falava aos soluços, enquanto passava as mãos nos cabelos que estavam ainda por pentear; prova de uma noite mal dormida.
Enquanto a tempestade invadia uma casa condenada ao desabamento, Silnaire se mantinha em silêncio... Era um ato automático. Sabia que quanto menos conversa sobre os problemas da irmã, melhor! Neste silêncio, procurava conter a dor que talvez fosse mais profunda do que a dor de trair a irmã. Quantas noites mal dormidas... Perguntava-se se realmente era uma traidora, já que Téo, não sabia de seus sentimentos. Difícil era Silnaire disfarçar. Sempre que assistia as cenas de ciúmes e brigas, parecia ser ela a traída. Silvânia, então percebeu a mudança de comportamento. – Naire, eu tenho notado que toda as vezes que brigo com o Téo, você fica triste por ver essas discussões... Não se deixe levar por nossas brigas, isso é coisa de casal e não tem nada haver com você. – Eu sei irmã, mas é que não me sinto bem, ver intrigas e sabe que ele te trata desse jeito... Até parece que ele não te ama! Bem, vamos mudar de assunto, falaremos de coisas boas! – Silnaire falou isso e foi ao banheiro lavar o rosto.
Do banheiro, Silnaire gritou: - Já escovou os dentes mana? Posso colocar o creme dental em sua escova? – Sim Pode! Que já estou indo. Preciso terminar de me arrumar, pois hoje vou sair. – Ao sair do banheiro e ter deixado a escova repleta de creme dental, Silnaire enquanto caminhava até a cozinha fez questão de falar: - hoje, Silvânia, pra te falar a verdade foi até bom essa gritaria dentro de casa; só assim, eu acordava um pouco mais cedo. Eu já não aguento mais essa vida. – Reclamava, por não ter trabalho, e ser sustentada pela irmã. O tédio lhe corroía a mente. – Então quer dizer que esse seu ar de tristeza, é por causa da vida que levas aqui? Sinto muito minha, irmã... Mas não acho que esse seja motivo suficiente para tamanha melancolia e solidão. Sei que não é bom, mas você é sangue do meu sangue e acima de tudo, sinto muito prazer em lhe ajudar, até você conseguir um emprego e ter seu cantinho. – Não é apenas por viver aqui e não ter trabalho. Sim, não posso negar que isso me entristece profundamente. – Respondeu Silnaire com a voz embargada. – E que outra coisa pode ser então? – Silvânia, perguntou sem nenhuma maldade em suas palavras. Ao perguntar fixava o olhar para porta, na esperança de ver Téo voltando, e não cumprisse a promessa de só voltar a noite. Se é que voltaria. – Deixa esse assunto pra lá Silvânia... Logo conseguirei um trampo (trabalho) e essa minha tristeza será coisa do passado. – E de forma quase inconsciente continuou: - "Não entendo, como é que podes deixar teu marido agir assim? Eu tenho reparado... Não que eu quisesse... Mas tá bem à mostra que faz tempo que vocês não transam." – E eu tenho culpa? Como você ver, eu estou aqui todos os dias, e nunca quis faltar com minhas obrigações de esposa e mulher... O que devo fazer se ele não me procura e quando o procuro ele foge de mim? Se você quer saber minha irmã, eu amo esse homem mais que tudo nessa vida! E se ele não me procura é por que já deve ter outra, ou outras... Vai lá saber! – Ao ouvir isto o coração de Silnaire, como que entrou em erupção, borbulhando uma mistura de amor, ciúmes e ódio, então pensou bem no fundo de seu íntimo: - "Se ele tem outra, por que esta não sou eu?" – Ouvi você falar algo? Está resmungando! – Silvânia teve a nítida impressão de ouvir os pensamentos de Naire. – não é nada, estou falando com meus botões. – Pois, é, mas parece que não estais me ouvindo... E ainda deu pra pensar alto!
A verdade é que Silnaire se assustou , quando sua irmã, quase ouviu seus queixumes.
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