CRÔNICAS.
ESPINHO
ENCRAVADO NA UNHA
- Acontecem coisas que não conseguimos
entender o porquê. Por exemplo, por que unha não se escreve com "h"
(hunha)? Tudo que fazemos nessa vida tem a participação efetiva das mãos. Parte
do corpo imprescindível para ajudar todos os outros movimentos, do instante em
que acordamos ao momento que voltamos ao descanso. No ínterim dessa passagem a
vida nos abre os olhos para saber, conhecer, ser feliz ou sofrer muito. Às
vezes essa mesma vida, nos fecham os olhos para a paz e por fim, forçadamente
nos leva ao caminho do desespero e da dor: Aquela dor que só nós sabemos qual
lugar do coração ela teima em machucar. Mesmo que a mente suporte o sacolejo e
segure as lágrimas, elas insistem teimosamente em rolarem dos olhos
abaixo, formando caminhos tortuosos na face, mas com um destino certo: O chão!
A mente suporta o clamor do coração.
- Nas mãos estão os importantes dedos com
suas proteções de enormes utilidades. São dez unhas, uma para cada dedo. Estão
lá, não para cuidar só do corpo quando de uma indesejada coceira. Por ser de
grande importância e potencialmente eficaz, seria muito difícil de viver sem as
carapaças dos frágeis dedos! Também para nos protegerem das dores irrelevante
da vida.
- Tal qual coração, a unha pode nos deixar
tão sensíveis, quando nos deparamos com pequenas ou grandes decepções. Como
você se sente, quando a unha se desprende um pouco que seja, da carne do dedo?
Ou quando um espinho se encrava sob a unha? Essas dores não são tão grandes
quanto a de uma martelada, mas incomoda... E muito! Sim, é necessário outro
objeto pontiagudo para extrair a farpa encravada, encravada sob a unha. Dor e
tristeza é o efeito desse atrevido alojado nas entranhas da carapaça. E
assim saímos de um estado feliz para um chato momento da vida.
- Assim me aconteceu, foi encravada em minha
unha a farpa do destino. Depois de ser marcado por um infarto e ser submetido a
uma cirurgia de ponte, para corrigir veias obstruídas, várias portas se
fecharam para mim. As firmas não querem assumir algum tipo de responsabilidade
a empregar alguém que operou o coração. Porém, após um ano de cirurgia, ,
consegui um emprego. Senti uma felicidade enorme, pois minha vida havia voltado
ao normal. É bem verdade que o salário era pouquíssima coisa além do
salário mínimo. Contudo, me senti na ativa, e melhor, me senti útil.
Infelizmente essa felicidade não demorou nem 40 dias. Igual farpa
introduzida sob a unha, o destino resolveu me demitir do emprego. A dor, uma
dor que nunca sentira antes aos poucos foi me invadindo, enquanto eu tentava
segurar as lágrimas teimosas. Eu tentava, mas ela enchia meus olhos! Então
deixei que ela lavassem meu rosto e seguissem seu rumo. E por dentro eu
choro e deixo que elas caiam feito cataratas. Nunca uma demissão me deixara tão
magoado. Dias após o desemprego, tive tempo de reparar como estavam minhas
heroínas que protegiam minhas mãos, pobres coitadas, estavam imundas... As
cutículas mudaram de cor, efeito dos óleos queimados e poeiras, tintas e
graxas!
- À medida que eu ia aparando as
unhas sujas, sentia como se um pedaço de mim, estivesse pulando pra fora do
corpo ao som do cortador: téc-téc-téc..., o destino dessas sobras era o lixo, e
parecia que lá eu também estava.
- As minha unhas sujas representavam vida,
muita vida, alegria, muitas alegrias. Eu estava feliz! Aqui estou eu
cortando-as, cortando minha vida. Nunca fui tão feliz num trabalho, quanto fui
nesse último! Minhas unhas sujas e manchadas representavam a volta de um
homem ao mercado de trabalho. Agora tudo acabou! Minhas unhas estão voltando a
cresce e serem limpas. A realidade nesse momento é vivida por desgosto que só o
futuro é capaz de desencravar a farpa, que fincada sob a unha faz
doer esse meu coração. Mesmo não sendo a dor de um infarto que tive
outrora, é uma dor que me lembra: “Foi por causa do infarto que sou obrigado a
viver com a unha encravada”... Hoje limpa, mas imunda de dor!
- A verdade é que todos de um jeito ou de
outro convive com uma unha encravada, lutando todos os dias para encontrar uma
maneira de aliviar a dor, e sorrir sem lágrimas de tristeza! Ainda bem que
temos dez dedos, para vivermos nove deles de felicidade!
- Como iniciei essa crônica, eu
realmente não entendo o porquê, de uma firma não empregar um trabalhador que
passou por uma cirurgia cardíaca. Acredito que a possibilidade de um operado
ter novamente um infarto dentro da empresa é igual ou menor de um operário que
nunca passou por um processo desses. Em fim, pelo menos temos mais nove dedos e
nove unhas para vivermos lutando pela melhoria de vida e de saúde! Os
noves dedos estão lá para nos lembrar de que nunca devemos desistir de lutar e
que as dores são assim, elas vem, mas passam!
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30-09-2013